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Arpeggio

Acordei suado com o corpo embolado entre os lençóis. Minha cabeça ainda estava confusa, mas a primeira coisa que percebi foram todos os meus nervos esticados por conta de uma onda avassaladora de tesão. O lençol escondia uma ereção quase dolorosa, ainda presa sob a cueca, que precisava ser resolvida o mais rápido possível. Eu tinha sonhado de novo com aquela mulher predadora.
Saí de casa disposto a encontrá-la e trazê-la comigo, nem que isso custasse um preço um pouco alto demais. Entrei em alguns bares e clubes ao acaso, olhei rapidamente quem estava ali e saí de novo, mas encontrei meu objetivo quando me virei para o outro lado da rua. Lá estava ela, com um vestido fendado expondo uma das coxas, que estava sensualmente envolvida nos quadris de um homem trêmulo. Quando me aproximei ela cruzou olhares comigo e seus grandes olhos castanhos fizeram um calafrio cruzar meu corpo. Lambeu os lábios gostosamente e sorriu - fazendo eu sentir um latejar dentro das calças - e deixou o homem que segurava cair sem vida no chão.
- O que faz por aqui? - ela tinha a voz melodiosa e grave, excitante.
- Sonhei com você de novo, acredita?
Em meio instante ela colava o corpo no meu, a voz rouca colada em meu ouvido sussurrando:
- Precisamos realizar esse sonho.
A mágica dela era palpável no ar como se fosse sólida. Percebi que não funcionava por toque, como a minha, mas por meio da visão. Antes que eu pudesse arrancar seu vestido ali mesmo, ela me escapuliu das mãos como se eu agarrasse fumaça e reapareceu a alguns metros, abrindo a porta de um táxi. Entrei atrás dela, meio alucinado, querendo por as mãos por debaixo daquele vestido. Ela me encontrou com um beijo na boca e sentou no meu colo com as longas pernas estendidas pelo banco de trás. O motorista parecia não nos enxergar.
Chegamos, fomos pro quarto e eu já tinha uma das mãos beliscando um de seus mamilos enquanto a outra seguia o caminho entre suas coxas. Ao deitar na cama, ela colocou o peso sobre meu corpo e expôs de leve as presas.
- Eu sei que você não me trouxe aqui pensando que eu viria de graça. Qual sua proposta?
Sem tirar as mãos de seu corpo, comecei a soprar de leve seu rosto. Em pouco tempo, eu estava soprando fumaça rosada e ela aspirava lentamente, sorrindo.
- Energia vital pura? Desse jeito vai me deixar mal acostumada.
O peso sobre mim desapareceu, e ela afastou a calcinha antes de se encaixar na minha ereção. Aproximou seu corpo do meu, passando a língua pelo meu pescoço e sussurrou no meu ouvido:
- Você sabe como agradar.

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