Éramos namorados, amantes, exageradamente apaixonados. No começo não nos demos bem, e eu me lembro de fugir pelas ruas em longos saltos. Ele, sem nome, foi atrás de mim e admitiu que minhas palavras o tornaram obssessivo. Nossas similaridades envolviam transtornos mentais sérios e uma total dependência na figura materna, mas acabavam aí. Sua psicose era tão extrema, que durante as noites ele deixava o conforto da cama que dividíamos para procurar-me mesmo se eu estivesse deitada ao seu lado. Sua personalidade se mantinha constantemente na corda-bamba, embora sua arrogância nunca diminuísse. Mas seu amor era tão real que acordei sozinha, sentindo sua falta.
Metódico, cirurgicamente limpo, preciso. O sobretudo preto e a cartola de cetim da mesma cor; as delicadas luvas de pelica branca, tudo denotava sua classe. Era um assassino. E não era unicamente um assassino... era um gênio. O melhor e mais conhecido de todos os tempos, e além de tudo, o mais rico. Engraçado como essa noite não carregava sua maleta com seus preciosos instrumentos. Levava em uma das mãos sua bengala, engastada com pérolas negras; e na outra, um estranho embrulho branco. Era grande o suficiente para parecer um presente, mas a cobertura era uma tira de pano branco e simples. Não podia pertencer à nenhuma de suas amantes. Cuidadoso também nesse sentido, nunca deixara com que nenhuma delas sobrevivesse mais do que algumas noites de satisfação. Presenteava-as, claro, mas logo recuperava o lucro perdido. Até a noite em que a conhecera. Helena era uma figura mítica. Muito mais bela que Helena de Tróia, muito mais poderosa que qualquer rainha amazona. Seus cabelos de um ruivo ...
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