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Mostrando postagens de novembro 23, 2010

Conto terceiro

Os pés mal tocavam a areia quente, lépidos. Os cachos insistiam em entrar na frente de seus olhos, que escorriam, escorriam em cascatas. Nas costas, sangue e vestígios de luta, arranhões e uma asa arrancada, penas presas no sangue seco. Sua pele parecia um raio de luar e só usava um grande pedaço de cetim para cobrir-se como em uma toga com as costas abertas. E os olhos, que escorriam em cascatas. Sua asa restante movia-se trêmula, em pequenos espasmos, como que sentindo a falta da outra. Um filete rubro escorria diretamente de sua omoplata direita tal qual uma pequena mina d'água que brotara ali, manchando o tecido branco que envolvia seu corpo. Suas pernas estavam pesadas, cada vez mais pesadas, mas forçava-se à continuar, a correr naquela mesma direção. As pedras pontudas e a areia quente machucavam-lhe os pés, tão acostumados a voar, mas corria. Nuvens gordinhas se aglomeravam no céu do amanhecer todo colorido de violeta, rosa e dourado, e o sol despontava como