Pelo que ouvi na reunião de condomínio, eu era "aquela moça branquinha do 502". Pobre gentio, mal sabem o monstro mal humorado que abrigam. Vim escrever minhas historinhas para que, quando velha, eu possa relê-las e sentir esse mesmo arroubo de amor que sinto agora.
Me mudei pra cá assim que me formei e consegui um bom emprego numa agência publicitária, enlouquecida atrás da paz de viver sozinha. Trabalhava em horários bizarros e sentia um estranho prazer em entrar e sair de casa de madrugada. O apartamento era pequeno, mas eu e Noodles - meu gato - nos sentíamos muito bem ali. Bem demais pra falar a verdade.
Meu único problema era com o domingo de folga, quando só me restava deitar de barriga pra cima no corredor entre o quarto e a sala, acender um cigarro e assistir a fumaça espiralar em direção ao teto. Não era solidão... Era tédio.
Foi então que, em uma tarde de quinta feira, enquanto eu dormia no sofá, alguém bateu suavemente na porta. Algo me fez despertar bruscamente e me arrastando, abri a porta com a expressão de fúria que me deixara famosa no ensino médio. Levou alguns segundos pra eu focalizar uma camisa de botões e levantar a cabeça pra encarar um visitante 30cm mais alto que eu, com dulcíssimos olhos castanhos.
- Oi, eu acabei de me mudar... Você pode me dizer onde fica o supermercado? Eu não tenho café...
Mais alguns segundos e minha mente se ajustou nos lugares. Passei uma das mãos no cabelo sentindo os fios embolarem-se entre meus dedos e resmunguei:
- Um café... Sim, claro, também preciso de um. Entra aí que eu faço café e depois te levo no supermercado.
Estava bastante ciente que eu vestia pijama e que meu apartamento cheirava a cigarro, perfume e desinfetante. Na cozinha, observei aqueles olhos desconfiados tocarem a superfície dos meus móveis.
- Você esqueceu de me dizer seu nome.
- Ah! Haha, desculpa... Meu nome é Álvaro. Eu acabei de me mudar pro outro apartamento desse andar, tá tudo meio bagunçado ainda, porque eu tô sozinho...
- Prazer, Aurora. Moro aqui tem uns 6 meses. Essa bola de pelos é o Noodles.
- Não sabia que podíamos ter animais...
- Não podemos. E é por isso que troco um segredo por um café.
Ofereci uma xícara esperando um suspiro sisudo mas ele me deu um sorriso.
- Um segredo por um café.
Acho que foi esse café que selou a nossa amizade.
Me mudei pra cá assim que me formei e consegui um bom emprego numa agência publicitária, enlouquecida atrás da paz de viver sozinha. Trabalhava em horários bizarros e sentia um estranho prazer em entrar e sair de casa de madrugada. O apartamento era pequeno, mas eu e Noodles - meu gato - nos sentíamos muito bem ali. Bem demais pra falar a verdade.
Meu único problema era com o domingo de folga, quando só me restava deitar de barriga pra cima no corredor entre o quarto e a sala, acender um cigarro e assistir a fumaça espiralar em direção ao teto. Não era solidão... Era tédio.
Foi então que, em uma tarde de quinta feira, enquanto eu dormia no sofá, alguém bateu suavemente na porta. Algo me fez despertar bruscamente e me arrastando, abri a porta com a expressão de fúria que me deixara famosa no ensino médio. Levou alguns segundos pra eu focalizar uma camisa de botões e levantar a cabeça pra encarar um visitante 30cm mais alto que eu, com dulcíssimos olhos castanhos.
- Oi, eu acabei de me mudar... Você pode me dizer onde fica o supermercado? Eu não tenho café...
Mais alguns segundos e minha mente se ajustou nos lugares. Passei uma das mãos no cabelo sentindo os fios embolarem-se entre meus dedos e resmunguei:
- Um café... Sim, claro, também preciso de um. Entra aí que eu faço café e depois te levo no supermercado.
Estava bastante ciente que eu vestia pijama e que meu apartamento cheirava a cigarro, perfume e desinfetante. Na cozinha, observei aqueles olhos desconfiados tocarem a superfície dos meus móveis.
- Você esqueceu de me dizer seu nome.
- Ah! Haha, desculpa... Meu nome é Álvaro. Eu acabei de me mudar pro outro apartamento desse andar, tá tudo meio bagunçado ainda, porque eu tô sozinho...
- Prazer, Aurora. Moro aqui tem uns 6 meses. Essa bola de pelos é o Noodles.
- Não sabia que podíamos ter animais...
- Não podemos. E é por isso que troco um segredo por um café.
Ofereci uma xícara esperando um suspiro sisudo mas ele me deu um sorriso.
- Um segredo por um café.
Acho que foi esse café que selou a nossa amizade.
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