Os dias passam devagar desde que você foi embora. Vazios. Dias brancos e noites negras. Seus passos ainda reboam no corredor. A fumaça branca do meu último cigarro - e eu fumei três maços numa noite só - espirala em direção ao teto, mas nem todos os cigarros que fumei conseguiram disfarçar o perfume que você deixou, como num rastro, pela casa.
A meia luz da cortina fechada ilumina o quarto. A lareira apagada mostra vestígios de lenha queimada. Uma garrafa vazia pende da minha mão esquerda e um cigarro, da direita. Meu corpo parece frágil e doente afundado nessa poltrona.
No outro cômodo, encimando a escrivaninha, repousa a máquina de escrever, silenciosa pela primeira vez em dias. Cheguei a escrever dezoito poemas e cinco contos durante a madrugada. Palavras tão vazias quanto meus dias. Escritas somente na intenção de tirá-las dos meus pensamentos.
Levanto-me, ou melhor, arrasto-me. Deixo de lado a garrafa e vou até a janela. A luz me fere os olhos, os prédios parecem cinzentos, as árvores, o céu, o jardim dos fundos... Tudo parece morto. As coisas não eram assim há três noites.
Por que você se foi?
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