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Terra Fértil

Assim vou correndo, pra longe daqui,
sorrindo, sozinha, morrendo de rir;
Já desperdicei meu veneno,
quem merece, tanto faz;
não há mais alvo seguro pra se correr atrás.
Talvez muito longe, talvez muito perto,
o que procuro, não sei ao certo;
já é tarde demais pra poder discutir,
sorrindo, sozinha, morrendo de rir.
Não mais lágrimas, nem mais esperança;
vou rindo sozinha, como uma criança.
Meus passos seguros, sozinhos, certeiros,
perseguidos por sombras infinitas,
não importa quantas vezes forem ditas,
meus pés se movem lépidos, rasteiros.

Assim vou correndo, pra longe daqui,
sorrindo, sozinha, morrendo de rir.
Meu sorriso conformado, em sua dor ele florece;
minha lágrima fútil, em teu sangue se aquece.
Acordei um tanto quanto sádica,
imperativa em meu modo de amar;
essas lacerações na tua carne, mais
me fazem te admirar. Cortes profundos,
sangrentos, tão belos quanto pinturas.
Teus ossos e pele magra, as mais perfeitas molduras.
Seu desespero estampado, doentio,
em teus olhos sedentos, sem feitio,
me aquecem ternamente, tão sinceros,
me arrependo amargamente de seu esmero.

Sorrindo, sozinha, tão longe daqui.
Correndo tão rápido, morrendo de rir.
Te quero mais perto, não posso esperar,
mais cruel do que deveria ser,
mais ácida do que deveria estar;
porque fazer sofrer, fazer amar,
é mais fácil do que flores na alma
manter e cultivar.

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