Pular para o conteúdo principal

Ferro e Ímã

Sempre fui uma rocha sólida, indobrável, nunca cedendo a nenhuma pressão. Meu modo de ver as coisas sempre foi o mesmo, e nenhum fator externo me mudaria a cabeça dura, minha direção seria a mesma, sempre. Sim, eu sempre fui de ferro.
De certo modo, sempre fui muito sozinha. É claro que eu tinha meus amigos, mas, no meu interior tão duro quanto meu exterior, sempre senti um estranho vazio. Algo faltava ali, mas, de alguma forma, eu nunca descobrira o que me faltava.
Até você aparecer.
Como uma estrela da alvorada, todo sorrisos, quase um completo oposto de mim. Eu não te conhecia, mas, de algum modo, algo me impelia, contra ou a favor de minha vontade, a você. É claro que fiquei com medo, mas o que eu poderia fazer? Seu brilho sempre foi forte demais, e eu, uma pobre criatura tão cinzenta e deprimida, mesmo que a temesse, era atraída pela luz. Por que você, logo você, tinha de ser meu ímã?
Desde o começo eu percebi que éramos mesmo opostos. Meu interior duro, que jamais deixou sequer uma lágrima cair na frente nem dos amigos mais próximos, em você sempre foi algo tenro, aberto a todos. Se estava feliz, todo o mundo cantaria contigo. Se triste, nem todas as noites tempestuosas aplacariam sua tristeza.
Por que sua atração tinha de ser tão forte? É claro que fugi, é claro que tentei afastar seu lindo sorriso do meu pensamento, seu olhar tão cheio de significados, seu perfume... Mas é como sempre aconteceu na natureza, desde quando um simples pedaço de ferro conseguiu fugir de um ímã tão forte? Pois é. Nunca!
E, apartir do momento que aceitei o que sempre foi inegável, que você me atraía e sempre atrairia, percebi que o estranho vazio que estava no meu peito inchou, inflou-se e dobrou-se, para poder ser totalmente preenchido por você.
E foi aí que eu percebi o porquê de tudo, e a verdade simples de todas as coisas - pra sempre seríamos eu e você; ferro e ímã.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Stacatto parte I

Assume-se que seres da noite como eu sentem repulsa por seres da luz, como anjos e outros parecidos com eles; mas não poderiam estar mais errados. Se não é a imensa vontade de corromper tudo o que é bom e belo, o que nos atrái é o caráter às vezes malicioso, enganador, como o das fadas. Tive minhas experiências com pessoas assim. Naquela noite em específico, entrei num clube noturno como tantos outros. Ultimamente um anjo, dentre todas as criaturas, andava frequentando os inferninhos comuns às outras raças. Era impossível não notá-lo: além do brilho dourado que emitia, estava cercado de mulheres de diversas espécies, todas hipnotizadas pela possibilidade de estar perto de um anjo. Claro que era bonito. Alto, dos olhos verdes e a pele tão branca e uniforme que parecia pedra. Parecia incrivelmente entediado, muito mais interessado em fumar um cigarro lentamente do que dar atenção à alguma de suas várias acompanhantes. Reconheci algumas das moças cujo olhar estasiado varria aquele rosto

Ao amor

Ao meu precioso, peço desculpas por ter levado tanto tempo sem te levar em conta. Quando finalmente acordei para encarar que era você quem me movia, já era tarde demais. E quando achei que tinha encontrado minha ligação eterna com você, ela se transformou em cinzas diante dos meus olhos. Mesmo assim, tento te procurar nas pequenas coisas, e devo confessar que isso tem sido quase impossivelmente difícil, mas venho sobrevivendo há dias impossíveis há algum tempo. Aquele sopro de frio gelado sempre vem pela porta, mas agora tenho trancado-a à chaves toda vez que ele vem. Como eu te encontraria novamente, se partisse daqui? Da sua fiel amiga, Juliana.

Noite escura

Um vento vindo do norte, úmido e salgado, entrou pela janela. O candelabro que eu usava para escrever uma carta foi apagado pelo sopro, e por um segundo vi as letras brilharem no pergaminho antes da luz se apagar por completo. Larguei a pena sobre a mesa, recostei-me na poltrona e fechei os olhos... Não que fizesse diferença, com a lua coberta por nuvens escuras, o quarto havia ficado na total escuridão. E ainda restava o gosto de sal deixado nos meus lábios, como se o mar tivesse me beijado, divertido com a minha frustração. Ouvi um leve burburinho aos poucos se elevar - eram aqueles malditos quadros que ele tinha deixado. Mesmo tirando todos da parede e virando-os de costas para mim, eles cochichavam entre si. Eu podia ouvir o tom debochado em seus cochichos, as risadinhas carregadas de veneno. Ouvi meu nome repetido várias vezes. - Ainda posso ouvir, vocês sabem. Mais risadas. No escuro, sozinha, eu nada podia fazer. Devia ter ateado fogo em todos quando tive oportunidade, aprovei