- Conte-me seus segredos.
A voz que vinha da poltrona de costas para mim não deixava dúvidas, era ele que estava ali sentado. As pontas de seus longuíssimos cabelos loiros estavam enroladas sobre a manga de seu sobretudo, e tive um súbito desejo de trançá-las. Que tipo de amigo era eu, afinal?
Havíamos nos conhecido no final de nossos cursos de Advocacia. Ele, sempre impecavelmente vestido, no auge de seus trinta e poucos, em seu terceiro curso superior. Sua família tinha uma vasta fortuna, que ele administrava cuidadosamente e lhe gerava lucros enormes.
Eu? Eu era só mais um jovem medíocre que cruzava o campus todos o dias, carregando pilhas de livros e sem tempo entre o estudo e o trabalho. Aconteceu de, numa dessas cruzadas, ele passar por mim e tomar o primeiro livro da pilha que eu trazia e perguntar, com voz educada:
- Será que se importaria de me emprestar este livro por três dias? Meu nome é Achille.
Um Aquiles francês ou italiano, que estranho. E ele realmente tinha lábios finos e pálidos, de uma beleza estranha para um homem, sem ser feminino demais.
- Sou Hector. Se me devolver em três dias, posso mesmo emprestar!
Ele sorriu, colocou o livro embaixo do braço, e colocou a mão sobre meu ombro. Daquele dia, foi só um pulo para que passássemos a sair juntos, em busca de diversão e luxúria entre mulheres desconhecidas, conhecimento em bibliotecas antigas, e, mais ainda, paz em sua luxuosa casa no subúrbio.
Em cerca de seis meses, considerava-o a pessoa de minha maior confiança e vice e versa, contando absolutamente tudo e ouvindo seus conselhos. Apresentei-o como meu melhor amigo à minha família, e ele apresentou-me aos seus empregados mais queridos, visto que seus parentes tinham morrido.
Naquela noite, ele levantou-se cansadamente da poltrona. Não tinha mais segredos para lhe contar, e ele sabia disso. No entanto, aproximou-se de mim e parou ao meu lado, com uma das mãos no meu ombro e outra no caximbo.
- Pois então, querido Hector, conto-lhe meu único e último segredo.
Seus lábios finos se desenrolaram por sobre seus branquíssimos e afiados dentes, e a última coisa que vi, além de seus esvoaçantes cabelos tão longos quanto os de uma moça, foram seus vívidos olhos verdes me dizendo adeus.
A voz que vinha da poltrona de costas para mim não deixava dúvidas, era ele que estava ali sentado. As pontas de seus longuíssimos cabelos loiros estavam enroladas sobre a manga de seu sobretudo, e tive um súbito desejo de trançá-las. Que tipo de amigo era eu, afinal?
Havíamos nos conhecido no final de nossos cursos de Advocacia. Ele, sempre impecavelmente vestido, no auge de seus trinta e poucos, em seu terceiro curso superior. Sua família tinha uma vasta fortuna, que ele administrava cuidadosamente e lhe gerava lucros enormes.
Eu? Eu era só mais um jovem medíocre que cruzava o campus todos o dias, carregando pilhas de livros e sem tempo entre o estudo e o trabalho. Aconteceu de, numa dessas cruzadas, ele passar por mim e tomar o primeiro livro da pilha que eu trazia e perguntar, com voz educada:
- Será que se importaria de me emprestar este livro por três dias? Meu nome é Achille.
Um Aquiles francês ou italiano, que estranho. E ele realmente tinha lábios finos e pálidos, de uma beleza estranha para um homem, sem ser feminino demais.
- Sou Hector. Se me devolver em três dias, posso mesmo emprestar!
Ele sorriu, colocou o livro embaixo do braço, e colocou a mão sobre meu ombro. Daquele dia, foi só um pulo para que passássemos a sair juntos, em busca de diversão e luxúria entre mulheres desconhecidas, conhecimento em bibliotecas antigas, e, mais ainda, paz em sua luxuosa casa no subúrbio.
Em cerca de seis meses, considerava-o a pessoa de minha maior confiança e vice e versa, contando absolutamente tudo e ouvindo seus conselhos. Apresentei-o como meu melhor amigo à minha família, e ele apresentou-me aos seus empregados mais queridos, visto que seus parentes tinham morrido.
Naquela noite, ele levantou-se cansadamente da poltrona. Não tinha mais segredos para lhe contar, e ele sabia disso. No entanto, aproximou-se de mim e parou ao meu lado, com uma das mãos no meu ombro e outra no caximbo.
- Pois então, querido Hector, conto-lhe meu único e último segredo.
Seus lábios finos se desenrolaram por sobre seus branquíssimos e afiados dentes, e a última coisa que vi, além de seus esvoaçantes cabelos tão longos quanto os de uma moça, foram seus vívidos olhos verdes me dizendo adeus.
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