Um vento vindo do norte, úmido e salgado, entrou pela janela. O candelabro que eu usava para escrever uma carta foi apagado pelo sopro, e por um segundo vi as letras brilharem no pergaminho antes da luz se apagar por completo. Larguei a pena sobre a mesa, recostei-me na poltrona e fechei os olhos... Não que fizesse diferença, com a lua coberta por nuvens escuras, o quarto havia ficado na total escuridão. E ainda restava o gosto de sal deixado nos meus lábios, como se o mar tivesse me beijado, divertido com a minha frustração. Ouvi um leve burburinho aos poucos se elevar - eram aqueles malditos quadros que ele tinha deixado. Mesmo tirando todos da parede e virando-os de costas para mim, eles cochichavam entre si. Eu podia ouvir o tom debochado em seus cochichos, as risadinhas carregadas de veneno. Ouvi meu nome repetido várias vezes.
- Ainda posso ouvir, vocês sabem.
Mais risadas. No escuro, sozinha, eu nada podia fazer. Devia ter ateado fogo em todos quando tive oportunidade, aproveitado a limpeza da primavera. Tateando no escuro, fui até a cristaleira e me servi de uma pequena dose de uísque, levando o copo até a janela. O céu escuro me encarou de volta, inexpressivo. Nada me levaria de volta àquele tempo de paz.
- Ainda posso ouvir, vocês sabem.
Mais risadas. No escuro, sozinha, eu nada podia fazer. Devia ter ateado fogo em todos quando tive oportunidade, aproveitado a limpeza da primavera. Tateando no escuro, fui até a cristaleira e me servi de uma pequena dose de uísque, levando o copo até a janela. O céu escuro me encarou de volta, inexpressivo. Nada me levaria de volta àquele tempo de paz.
Comentários