Caminhavam de mãos dadas por uma trilha. Joelhos ossudos e olhos fundos, cabelos finos e despenteados. A pele coberta de veias, hematomas, cicatrizes. A Culpa mantinha na outra mão uma série de fotografias, que já estavam amareladas, amassadas e rasgadas de tanto tempo e manuseio. Já sua pequena mão esquerda era segurada por um cavalheiro distinto. A pele escura e lustrosa, os olhos cor de ônix, uma cartola e um monóculo de ouro pendendo sob o nariz largo. Seus lábios grossos se moviam rapida e silenciosamente, sussurrando as próprias glórias. Volta e meia usava a mão livre para ajeitar sua bonita cartola de cetim no topo da gloriosa cabeça. E seguiam, cada um à sua maneira, para dentro da escuridão.
Metódico, cirurgicamente limpo, preciso. O sobretudo preto e a cartola de cetim da mesma cor; as delicadas luvas de pelica branca, tudo denotava sua classe. Era um assassino. E não era unicamente um assassino... era um gênio. O melhor e mais conhecido de todos os tempos, e além de tudo, o mais rico. Engraçado como essa noite não carregava sua maleta com seus preciosos instrumentos. Levava em uma das mãos sua bengala, engastada com pérolas negras; e na outra, um estranho embrulho branco. Era grande o suficiente para parecer um presente, mas a cobertura era uma tira de pano branco e simples. Não podia pertencer à nenhuma de suas amantes. Cuidadoso também nesse sentido, nunca deixara com que nenhuma delas sobrevivesse mais do que algumas noites de satisfação. Presenteava-as, claro, mas logo recuperava o lucro perdido. Até a noite em que a conhecera. Helena era uma figura mítica. Muito mais bela que Helena de Tróia, muito mais poderosa que qualquer rainha amazona. Seus cabelos de um ruivo ...
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