Caminhavam de mãos dadas por uma trilha. Joelhos ossudos e olhos fundos, cabelos finos e despenteados. A pele coberta de veias, hematomas, cicatrizes. A Culpa mantinha na outra mão uma série de fotografias, que já estavam amareladas, amassadas e rasgadas de tanto tempo e manuseio. Já sua pequena mão esquerda era segurada por um cavalheiro distinto. A pele escura e lustrosa, os olhos cor de ônix, uma cartola e um monóculo de ouro pendendo sob o nariz largo. Seus lábios grossos se moviam rapida e silenciosamente, sussurrando as próprias glórias. Volta e meia usava a mão livre para ajeitar sua bonita cartola de cetim no topo da gloriosa cabeça. E seguiam, cada um à sua maneira, para dentro da escuridão.
Assume-se que seres da noite como eu sentem repulsa por seres da luz, como anjos e outros parecidos com eles; mas não poderiam estar mais errados. Se não é a imensa vontade de corromper tudo o que é bom e belo, o que nos atrái é o caráter às vezes malicioso, enganador, como o das fadas. Tive minhas experiências com pessoas assim. Naquela noite em específico, entrei num clube noturno como tantos outros. Ultimamente um anjo, dentre todas as criaturas, andava frequentando os inferninhos comuns às outras raças. Era impossível não notá-lo: além do brilho dourado que emitia, estava cercado de mulheres de diversas espécies, todas hipnotizadas pela possibilidade de estar perto de um anjo. Claro que era bonito. Alto, dos olhos verdes e a pele tão branca e uniforme que parecia pedra. Parecia incrivelmente entediado, muito mais interessado em fumar um cigarro lentamente do que dar atenção à alguma de suas várias acompanhantes. Reconheci algumas das moças cujo olhar estasiado varria aquele rosto
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