Meu palácio era de pedra escura. Pedregulhos grandes e rústicos formavam as paredes, que tornaram os cômodos escuros e frios. Agora, gastas, as pedras são de um cinza sem graça. As janelas, de cristal claro como o dia, já foram cobertas por hera. Depois que os criados foram embora, meu palácio está sem cuidados... Os cômodos cobertos de tapeçarias turcas e lençóis de seda agora são apenas ninhos de traças. As velas dos castiçais não são mais trocadas e por isso vivo quase na escuridão total. O jardim? Ah, minhas queridas rosas vermelhas. A única delas que restou mantenho guardada seca, entre as páginas de um livro. O piano que existia na sala está desafinado há muito, muito tempo... E ninguém nunca mais veio tocar.
Metódico, cirurgicamente limpo, preciso. O sobretudo preto e a cartola de cetim da mesma cor; as delicadas luvas de pelica branca, tudo denotava sua classe. Era um assassino. E não era unicamente um assassino... era um gênio. O melhor e mais conhecido de todos os tempos, e além de tudo, o mais rico. Engraçado como essa noite não carregava sua maleta com seus preciosos instrumentos. Levava em uma das mãos sua bengala, engastada com pérolas negras; e na outra, um estranho embrulho branco. Era grande o suficiente para parecer um presente, mas a cobertura era uma tira de pano branco e simples. Não podia pertencer à nenhuma de suas amantes. Cuidadoso também nesse sentido, nunca deixara com que nenhuma delas sobrevivesse mais do que algumas noites de satisfação. Presenteava-as, claro, mas logo recuperava o lucro perdido. Até a noite em que a conhecera. Helena era uma figura mítica. Muito mais bela que Helena de Tróia, muito mais poderosa que qualquer rainha amazona. Seus cabelos de um ruivo ...
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