Meu palácio era de pedra escura. Pedregulhos grandes e rústicos formavam as paredes, que tornaram os cômodos escuros e frios. Agora, gastas, as pedras são de um cinza sem graça. As janelas, de cristal claro como o dia, já foram cobertas por hera. Depois que os criados foram embora, meu palácio está sem cuidados... Os cômodos cobertos de tapeçarias turcas e lençóis de seda agora são apenas ninhos de traças. As velas dos castiçais não são mais trocadas e por isso vivo quase na escuridão total. O jardim? Ah, minhas queridas rosas vermelhas. A única delas que restou mantenho guardada seca, entre as páginas de um livro. O piano que existia na sala está desafinado há muito, muito tempo... E ninguém nunca mais veio tocar.
Assume-se que seres da noite como eu sentem repulsa por seres da luz, como anjos e outros parecidos com eles; mas não poderiam estar mais errados. Se não é a imensa vontade de corromper tudo o que é bom e belo, o que nos atrái é o caráter às vezes malicioso, enganador, como o das fadas. Tive minhas experiências com pessoas assim. Naquela noite em específico, entrei num clube noturno como tantos outros. Ultimamente um anjo, dentre todas as criaturas, andava frequentando os inferninhos comuns às outras raças. Era impossível não notá-lo: além do brilho dourado que emitia, estava cercado de mulheres de diversas espécies, todas hipnotizadas pela possibilidade de estar perto de um anjo. Claro que era bonito. Alto, dos olhos verdes e a pele tão branca e uniforme que parecia pedra. Parecia incrivelmente entediado, muito mais interessado em fumar um cigarro lentamente do que dar atenção à alguma de suas várias acompanhantes. Reconheci algumas das moças cujo olhar estasiado varria aquele rosto
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