Já era o quarto dia e já podia crer que meu juízo estava perdido. Mas deixe-me contar minha história, talvez isso me faça são.
Certo dia, abri meus olhos. Ao invés do teto iluminado em tons pastéis pelo sol, achei estar cego, tamanha a escuridão ao meu redor. Toquei meu rosto pra perceber que estavam abertos e logo em seguida entrei em pânico. Encontrava-me deitado num catre, preso à uma parede de pedra, por correntes.
Toquei meu próprio corpo em busca de cicatrizes, podiam ter roubado-me os órgãos enquanto dormia, um desses crimes terríveis dos dias de hoje. Mas nada estava fora do normal, e pelo que parecia, vestia o mesmo da noite anterior: meu suéter branco, minha camiseta, e minhas calças de pijama cor de creme.
Levantei-me. Com braços esticados, segui as paredes e constatei que me achava num quarto vazio com paredes de pedra, na completa escuridão e tudo além do catre, era uma pia com água gelada, um sanitário e uma porta. Estava só. Fazia frio, e a única coisa que possuía era um fino cobertor que cobria o catre onde eu estava e a roupa do corpo.
- Olá? Tem alguém aí?
Minha voz reboou de volta ao meu encontro, sem resposta. Quem teria me trazido ali? Quem teria me deixado no escuro? E por que? Sentei-me no meu catre, a cabeça girando e a garganta seca, a um passo de gritar aquelas perguntas. Mas não haveria resposta.
Sei que muitíssimo tempo se passou e adormeci, com frio e com fome. Envolvi-me com o cobertor, mas ele não me trazia nenhum alívio. Dormi um sono sem sonhos e sem perturbações. E acordei, novamente, na completa escuridão.
O que começava a me enlouquecer naquele quarto, era o estarrecedor silêncio. Parecia palpável, e até mesmo ao assobiar pra tentar quebrá-lo, emudeci tamanha pressão. Porém, quando um ruído se fez, foi como se um estrondo reboasse. Alguém movia a porta.
Como num sonho, uma minúscula portinha se abriu, uma tigela foi empurrada pra dentro, e uma nesga de sol entrou junto. No outro instante, o sol e a portinha sumiram. Aquela era minha única garantia de que não estava cego.
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