Ele era um jovem prodígio. Tocava violino desde os oito anos, num talento sem igual. Seus olhos castanhos e vívidos se fechavam quando suas mãos punham-se em ação, em melodias melancólicas e contagiantes. Não havia criança mais bela e tímida que ele na pequena vila.
Seu pai era barbeiro, e ele o via afiar as lâminas cuidadosamente todas as tardes. Orgulhoso, o pai bagunçava os caprichados cachos do menino e pedia para que tocasse alguns minutos para ele. Ele sentava-se num banquinho, posicionava seu querido instrumento musical e fechava os olhos - os minutos seguintes se passavam num doce torpor.
Sua pele pálida refletia os cálidos e últimos raios de sol, quando a barbearia era fechada, e o pai o convidava a ir jantar no restaurante da esquina. E lá iam os três, homem, garoto e violino. Ao chegar no conhecido lugar, sentavam-se numa mesa gasta e amarelada, pediam o prato do dia e comiam silenciosamente. Vez ou outra, passava um conhecido para cumprimentá-los e ver o brilho nos olhos do pai ao comentar que o filho ia cada vez melhor nas aulas de música.
Depois de fartos, despediam-se dos garçons com um sorriso e seguiam a pé até a pequena casa onde viviam, acompanhados pelo espírito da falecida esposa e mãe. Ela morrera no parto do menino, mas mesmo assim, era como se vivesse naquelas paredes e móveis. Tudo tinha seu toque e o viúvo relutava em aceitar sua partida.
De manhã, o menino acordava cedo e lavava-se para suas preciosas aulas de teoria musical. No entanto, hoje era um dia diferente. Arrumou-se com cuidado, perfumou-se com a água de colônia do pai, penteou os cabelos. Saiu silenciosamente de casa e rumou à barbearia. As pessoas ainda não tinham começado a transitar aos montes pela rua, então seu caminho foi silencioso e pensativo.
Abriu a porta e ouviu o irritante sininho tilintar, como era típico das lojas dali. Foi até a bancada do pai e abriu as gavetas até achar o que procurava. Um estojo grande, coberto de veludo negro, um tanto quanto pesado. Arrastou-o até o quarto dos fundos, onde o pai guardava uma série de quinquilharias, mas era longe das vistas dos transeuntes.
O estojo abriu-se com a delicadeza de uma caixa de jóias e o seu conteúdo reluziu tal e qual. Eram as navalhas com cabo de prata do pai, seu segundo tesouro. Pegou uma delas e retornou o estojo ao seu devido lugar. A algumas ruas dali, o pai terminava de tomar o amargo café do desjejum e preparava-se para sair.
Caminhou a passos leves e abriu a porta da barbearia como todas as manhãs. Seu primeiro pensamento foi varrer o pequeno cômodo de trabalho, e se encaminhou para o quarto dos fundos onde estava a vassoura. Por um momento, o coração lhe faltou. Espalhados no chão, cachos ruivos, sardas, pele pálida, sangue rubro... e cordas de violino.
Seu pai era barbeiro, e ele o via afiar as lâminas cuidadosamente todas as tardes. Orgulhoso, o pai bagunçava os caprichados cachos do menino e pedia para que tocasse alguns minutos para ele. Ele sentava-se num banquinho, posicionava seu querido instrumento musical e fechava os olhos - os minutos seguintes se passavam num doce torpor.
Sua pele pálida refletia os cálidos e últimos raios de sol, quando a barbearia era fechada, e o pai o convidava a ir jantar no restaurante da esquina. E lá iam os três, homem, garoto e violino. Ao chegar no conhecido lugar, sentavam-se numa mesa gasta e amarelada, pediam o prato do dia e comiam silenciosamente. Vez ou outra, passava um conhecido para cumprimentá-los e ver o brilho nos olhos do pai ao comentar que o filho ia cada vez melhor nas aulas de música.
Depois de fartos, despediam-se dos garçons com um sorriso e seguiam a pé até a pequena casa onde viviam, acompanhados pelo espírito da falecida esposa e mãe. Ela morrera no parto do menino, mas mesmo assim, era como se vivesse naquelas paredes e móveis. Tudo tinha seu toque e o viúvo relutava em aceitar sua partida.
De manhã, o menino acordava cedo e lavava-se para suas preciosas aulas de teoria musical. No entanto, hoje era um dia diferente. Arrumou-se com cuidado, perfumou-se com a água de colônia do pai, penteou os cabelos. Saiu silenciosamente de casa e rumou à barbearia. As pessoas ainda não tinham começado a transitar aos montes pela rua, então seu caminho foi silencioso e pensativo.
Abriu a porta e ouviu o irritante sininho tilintar, como era típico das lojas dali. Foi até a bancada do pai e abriu as gavetas até achar o que procurava. Um estojo grande, coberto de veludo negro, um tanto quanto pesado. Arrastou-o até o quarto dos fundos, onde o pai guardava uma série de quinquilharias, mas era longe das vistas dos transeuntes.
O estojo abriu-se com a delicadeza de uma caixa de jóias e o seu conteúdo reluziu tal e qual. Eram as navalhas com cabo de prata do pai, seu segundo tesouro. Pegou uma delas e retornou o estojo ao seu devido lugar. A algumas ruas dali, o pai terminava de tomar o amargo café do desjejum e preparava-se para sair.
Caminhou a passos leves e abriu a porta da barbearia como todas as manhãs. Seu primeiro pensamento foi varrer o pequeno cômodo de trabalho, e se encaminhou para o quarto dos fundos onde estava a vassoura. Por um momento, o coração lhe faltou. Espalhados no chão, cachos ruivos, sardas, pele pálida, sangue rubro... e cordas de violino.
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