Estava finalmente partindo. Um suspiro de alívio escapou por entre seus dentes e uma lágrima do mais puro êxtase rolou de seu olho direito. Aquela seria a última vez que se entregaria ao homem que amava, mas que dela só esperava os prazeres carnais. Que tola fora! Foi tão rápido, como sempre, e já era hora de se despedir.
Ela não quis deixar claras suas intenções. Havia planejado um enorme e elaborado discurso, onde ele apenas escutaria distante, mas o mesmo ficou preso em sua garganta. Então, antes que as lágrimas fossem mais fortes que seus cílios longos e pretos, ela apenas beijou-lhe uma das bochechas e aspirou aquele perfume que tantas vezes a deixara zonza.
Ele fez menção de segurar-lhe o queixo e depositar um selo em seus lábios, mas ela esquivou-se antes que alguém conhecido os visse. A passos rápidos e largos, o escarpim batendo contra o cimento molhado da calçada, ela flutuou de volta até sua casa - vazia, escura e fria como um freezer.
Apertou o sobretudo em volta do pescoço e escutou sua respiração ecoar pela casa, som que ela não mais queria ouvir. Trancou-se no quarto e olhou pra tudo que arrumara cuidadosamente... Objetos, cartas, lembranças. Lágrimas selvagens a cegavam, mas ela já havia decidido ser mais forte que seus sentimentos absurdos.
A verdade é que estava cansada de tudo e todos, e principalmente de ser ela mesma. Estava cansada de viver numa casca, grossa como uma fortaleza, onde escondia todos os sentimentos ao longo dos anos. Estava cansada da mesma rotina de infelicidades que era obrigava a chamar de vida, e a última gota d'água aconteceu quando ele dissera que a amava.
Ela não tolerava mentiras.
Com uma das mãos, pegou todos os comprimidos anteriormente separados, e foi colocando-os um a um na boca. Engolia, sôfrega, com goles d'água. Bambeou por um momento, o quarto sendo sua última visão, e tombou arfante sobre a cama alta. Já era tarde demais quando seus melhores amigos abriram finalmente a carta que o correio lhes entregou; e ao invadirem-lhe a casa, tudo o que acharam foi uma pálida boneca de porcelana, de cabelos róseos e vestido dourado...
Ela não quis deixar claras suas intenções. Havia planejado um enorme e elaborado discurso, onde ele apenas escutaria distante, mas o mesmo ficou preso em sua garganta. Então, antes que as lágrimas fossem mais fortes que seus cílios longos e pretos, ela apenas beijou-lhe uma das bochechas e aspirou aquele perfume que tantas vezes a deixara zonza.
Ele fez menção de segurar-lhe o queixo e depositar um selo em seus lábios, mas ela esquivou-se antes que alguém conhecido os visse. A passos rápidos e largos, o escarpim batendo contra o cimento molhado da calçada, ela flutuou de volta até sua casa - vazia, escura e fria como um freezer.
Apertou o sobretudo em volta do pescoço e escutou sua respiração ecoar pela casa, som que ela não mais queria ouvir. Trancou-se no quarto e olhou pra tudo que arrumara cuidadosamente... Objetos, cartas, lembranças. Lágrimas selvagens a cegavam, mas ela já havia decidido ser mais forte que seus sentimentos absurdos.
A verdade é que estava cansada de tudo e todos, e principalmente de ser ela mesma. Estava cansada de viver numa casca, grossa como uma fortaleza, onde escondia todos os sentimentos ao longo dos anos. Estava cansada da mesma rotina de infelicidades que era obrigava a chamar de vida, e a última gota d'água aconteceu quando ele dissera que a amava.
Ela não tolerava mentiras.
Com uma das mãos, pegou todos os comprimidos anteriormente separados, e foi colocando-os um a um na boca. Engolia, sôfrega, com goles d'água. Bambeou por um momento, o quarto sendo sua última visão, e tombou arfante sobre a cama alta. Já era tarde demais quando seus melhores amigos abriram finalmente a carta que o correio lhes entregou; e ao invadirem-lhe a casa, tudo o que acharam foi uma pálida boneca de porcelana, de cabelos róseos e vestido dourado...
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