O garotinho vivia naquela casa desde que nascera, com seu mentor e padrinho, Gerard. Pierre era seu nome. Toda a aristocracia francesa se apiedara daquela linda criança - quem não se apiedaria? - quando seus pais, pouco depois de seu nascimento, morreram assassinados, misteriosamente, num vagão de trem.
A casa era velha, pequena e assustadora. Seus diminutos jardins, em frente e nos fundos, eram mal cuidados e isso dava um ar de abandono à residência. A tinta descascava e embolorava, e o que um dia fora um bonito cinza de céu nublado, hoje era apenas um bocado de manchas esverdeadas de limo e musgo. No segundo andar, havia apenas uma grande e única janela de vidro, onde ficava o quarto do pequeno Pierre. Todos os dias ali ele colocava seus redondos olhos, de um azul tempestade. Seu cabelo em tons de loiro e ruivo cobria-lhe a alvíssima cabeça em cachos caprichosos.
Pierre não tinha amigos, nem parentes, e não conhecia nada muito além daquela casa e da biblioteca, que ficava a poucos quarteirões dali, e onde ele ia até três vezes por semana, sem que Gerard soubesse. Sabia-se que tinha uma linda voz, mesmo em seus simples oito anos, mas nunca a usava. Nunca. A não ser quando se escondia na sala do piano, e a cozinheira, através da grossa porta, ouvia-o sussurrar e até cantarolar.
Certo dia, a velha cozinheira, uma velhinha baixa de cabelos castanhos e rosto enrugado, resolveu espiar o menino falar. A curiosidade comichando na ponta dos dedos, ela girou a maçaneta com cuidado e, num canto, viu o menino de costas a ler um livro. No entanto, ele não estava sozinho - uma curiosa sorte de pessoas ali estava, todos muito pálidos, com os olhos fixos na costas do menino.
Com sua voz de cristal, ele lia uma história em voz alta, e todos os fantasmas escutavam, embevecidos. A velha se afastou de ímpeto, assustada, mas um deles se voltou para ela com o indicador sobre os lábios. Ela entendeu o recado, e fugiu da casa em absoluto silêncio.
Exatamente como o menino passava os dias.
A casa era velha, pequena e assustadora. Seus diminutos jardins, em frente e nos fundos, eram mal cuidados e isso dava um ar de abandono à residência. A tinta descascava e embolorava, e o que um dia fora um bonito cinza de céu nublado, hoje era apenas um bocado de manchas esverdeadas de limo e musgo. No segundo andar, havia apenas uma grande e única janela de vidro, onde ficava o quarto do pequeno Pierre. Todos os dias ali ele colocava seus redondos olhos, de um azul tempestade. Seu cabelo em tons de loiro e ruivo cobria-lhe a alvíssima cabeça em cachos caprichosos.
Pierre não tinha amigos, nem parentes, e não conhecia nada muito além daquela casa e da biblioteca, que ficava a poucos quarteirões dali, e onde ele ia até três vezes por semana, sem que Gerard soubesse. Sabia-se que tinha uma linda voz, mesmo em seus simples oito anos, mas nunca a usava. Nunca. A não ser quando se escondia na sala do piano, e a cozinheira, através da grossa porta, ouvia-o sussurrar e até cantarolar.
Certo dia, a velha cozinheira, uma velhinha baixa de cabelos castanhos e rosto enrugado, resolveu espiar o menino falar. A curiosidade comichando na ponta dos dedos, ela girou a maçaneta com cuidado e, num canto, viu o menino de costas a ler um livro. No entanto, ele não estava sozinho - uma curiosa sorte de pessoas ali estava, todos muito pálidos, com os olhos fixos na costas do menino.
Com sua voz de cristal, ele lia uma história em voz alta, e todos os fantasmas escutavam, embevecidos. A velha se afastou de ímpeto, assustada, mas um deles se voltou para ela com o indicador sobre os lábios. Ela entendeu o recado, e fugiu da casa em absoluto silêncio.
Exatamente como o menino passava os dias.
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